quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Interdisciplinaridade ou corporativismo?

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"Interdisciplinaridade" é uma palavra bonita, bastante em moda nos meios acadêmicos atualmente. Está na hora então deste conceito ser aplicado também na hora do ingresso na carreira acadêmica, em especial nos requisitos exigidos nos concursos para as universidades públicas. Como diz uma colega minha aqui da UESC, Prof. Ana Paula Brandão Lopes, os que "ousam" mudar de área são sistematicamente excluídos.

Isso me incomoda devido a minha trajetória: minha graduação foi na área de informática; no mestrado trabalhei com Geoprocessamento e Lógica Nebulosa, e estou finalizando o doutorado trabalhando com Geoprocessamento e Computação Inteligente (Redes Neurais Artificiais e Lógica Nebulosa), inclusive com o desenvolvimento e a disponibilização de um software completo para análise de dados espaciais (veja postagem aqui). Bela trajetória "computonauta", não? O problema são os títulos! Graduação em "Tecnologia de Processamento de Dados", Mestrado em "Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais", e Doutorado em "Geografia". Pela prática atual, não dá para prestar concurso nem na Computação, nem na Geografia...

A Ana Paula publicou um texto extremamente claro e objetivo sobre esse tema no Jornal da Ciência (disponível aqui), que reproduzo com autorização da autora:

20. Leitora comenta matéria “Concurso para professor na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri”

“É urgente a necessidade de regulamentação dos requisitos que podem ou não ser exigidos nos concursos para professor”

Mensagem de Ana Paula Brandão Lopes, da Universidade Estadual de Santa Cruz:

“Onde fica a interdisciplinaridade? Tenho acompanhado os concursos das universidades públicas brasileiras já há alguns anos e tenho visto uma exclusão sistemática daqueles que participam de programas de pós-graduação interdisciplinares ou simplesmente "ousam" mudar de área entre a graduação e a pós, mesmo que a mudança seja em áreas correlatas.

Só a título de citar alguns exemplos desse último concurso:

- Nem um doutor em Engenharia Florestal, com graduação em Agronomia, ou um doutor em Agronomia com graduação em Engenharia Florestal poderiam concorrer a nenhuma das quatro vagas disponíveis na UFVJM para essas áreas.

- Contabilistas com doutorado em Administração também ficam de fora das vagas para Administração, assim como administradores com doutorado em Ciências Contábeis.

- E para "fechar com chave de ouro", apesar da imensa carência de pessoal com pós-graduação na área de computação, uma pessoa que tivesse feito a graduação em Matemática Computacional e depois feito a pós em Ciência da Computação estaria impedida de fazer o concurso para Sistemas de Informação. O mesmo vale para egressos do doutorado no LNCC, independente da graduação de origem.

E os exemplos continuam em quase todas as vagas e não são exclusividade da UFVJM...

Essa é uma situação recorrente, e que está prejudicando muita gente. São pessoas que trabalharam tão duro quanto os demais pelos seus títulos, e, às vezes, até mais, pela necessidade de adquirir conhecimentos de outras áreas que não a da sua graduação.

Essas pessoas demonstraram competência para superar os desafios da interdisciplinaridade e agora se vêem impedidas até mesmo de concorrer àquelas que são atualmente as mais cobiçadas oportunidades de emprego para pós-graduados no Brasil.

Existe uma expectativa de abertura de um grande número de vagas nas federais para os próximos anos, e alguma coisa precisa ser feita para impedir que essas situações continuem se reproduzindo.

É urgente a necessidade de regulamentação dos requisitos que podem ou não ser exigidos nos concursos para professor, evitando que toda uma população de pós-graduados fique marginalizada desses concursos.

A sugestão é que somente a última titulação possa ser especificada nos requisitos; além disso, deve haver garantias de que egressos de programas multidisciplinares ou de áreas afins cujos trabalhos estejam relacionados à área do concurso possam participar. A partir disso, que passem os melhores.”


Bem, pelo menos a discussão começou. Já surgiu outro comentário sobre este assunto (veja aqui).

Como diz um colega do PSL-BA, "vamo que vamo!"

Grande abraço a todas e a todos!
Carlão

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Motivação para trabalhos intelectuais

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Esta é a tirinha de Calvin & Haroldo que me inspirou durante o doutorado, em especial agora na reta final - quando entrei no, como Calvin diz, "right mood"... :-)

(clique na figura para ampliar)

Abraços!
Carlão

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Doutorado: Geoprocessamento e Computação Inteligente: Possibilidades, vantagens e necessidades

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[ ATUALIZAÇÃO 8.fevereiro.2009 ]
Texto e código-fonte disponíveis; correção de links;


RESUMO
As técnicas de análise de dados e de busca de soluções fornecidas pela Computação Inteligente tiveram, nos últimos tempos, um grande avanço em seu desenvolvimento. Essas técnicas têm sido utilizadas com eficácia e eficiência no tratamento de problemas complexos e/ou que possuam uma grande quantidade de dados a serem processados. A integração destas técnicas com as ferramentas computacionais de produção e análise de informações geográficas (Geoprocessamento) é, portanto, muito vantajosa, especialmente com relação à grande quantidade de dados geralmente envolvida nas questões de natureza espacial. Este trabalho apresenta dois exemplos de uso de técnicas de Computação Inteligente em procedimentos de produção e análise de informações geográficas: um Sistema de Raciocínio Nebuloso (baseado na Lógica Nebulosa) para a construção de um mapa de fertilidade de solos, e uma Rede Neural Artificial para a identificação de agrupamentos espaciais em dados sócio-econômicos. Os dois exemplos foram conduzidos utilizando-se um software especialmente construído para esta finalidade, denominado GAIA – Geoprocessamento Apoiado por Inteligência Artificial –, e que doravante está disponível como Software Livre para qualquer pesquisador interessado em utilizar estas ferramentas. O estudo conclui que o uso das técnicas provenientes da computação inteligente, em comparação com técnicas tradicionais de análise de dados, contribuiu para um aumento da qualidade dos resultados obtidos.


Texto disponível aqui


Software GAIA - Geoprocessamento Apoiado por Inteligência Artificial

Grupo de discussão:
(*inativo*) http://groups.yahoo.com/group/gaia_geoprocessamento_ia

Licença:
GNU General Public License (GPL) version 3
Licença Pública Geral GNU - versão 3
Disponível em www.gnu.org/licenses/gpl.html
Tradução não oficial para português: www.fsfla.org/svnwiki/trad/GPLv3

- Executável (GNU/linux, i386, requer GTK)

- Dados dos exemplos

- Instruções para instalação

- Tutorial passo-a-passo para os exemplos apresentados na tese: inserido no texto da tese, disponível no link apresentado no início desta postagem

- Código-fonte

ATENÇÃO! está disponível acima apenas o código-fonte (arquivos cpp e glade, além de algumas imagens). Em breve disponibilizarei aqui o makefile, junto com instruções detalhadas para compilação junto com a TerraLib.


- live-cd (GAIA, TerraView, MYSQL, tutoriais + dados)
Arquivo ISO (versão em inglês)
Leia-me !!
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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Dissertação de mestrado

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O geoprocessamento como ferramenta para estudos sociológicos: O caso da relação de influência entre urbanização e o perfil de capital cultural dos vestibulandos da UNESP


Resumo:

A proposta deste trabalho é contribuir para uma nova forma transdisciplinar de pensamento, construindo uma interface entre a computação e a sociologia, mostrando como técnicas computacionais de análise de dados podem contribuir para auxiliar na inserção da dimensão espacial nos estudos sociológicos. Com esse objetivo, busca-se estudar a relação de influência que o grau de urbanização das cidades e regiões exerce sobre o perfil de capital cultural dos alunos ingressantes em diversos cursos de uma mesma carreira, localizados em diversos campi da UNESP, espalhados pelo interior do Estado de São Paulo.

Arquivos:

Capa
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3 - parte 1
Capítulo 3 - parte 2
Capítulo 4
Capítulo 5 - Bibilografia - Anexo

Apresentação (slides)


Este trabalho está sendo disponibilizado pela mesma licença que governa este Blog:

Creative Commons License

terça-feira, 27 de maio de 2008

Resposta

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Dwar Ev soldou solenemente a junção final com ouro. A objetiva de uma dúzia de câmeras de televisão se concentrava nele, transmitindo a todo o universo doze enquadramentos diferentes do que estava fazendo.

Endireitou o corpo e acenou com a cabeça para Dwar Reyn, indo depois ocupar a posição prevista, ao lado da chave que completaria o contato quando fosse ligada. E que acionaria, simultaneamente, todos os gigantescos computadores da totalidade dos planetas habitados do universo inteiro - noventa e seis bilhões de planetas - ao supercircuito que, por sua vez, ligaria todos eles a uma supercalculadora, máquina cibernética capaz de combinar o conhecimento integral de todas as galáxias.

Dwar Reyn dirigiu palavras aos trilhões de telespectadores. Depois de um momento de silêncio, deu a ordem:

- Agora, Dwar Ev!

Dwar Ev ligou a chave. Ouviu-se um zumbido fortíssimo, o surto de energia proveniente de noventa e seis bilhões de planetas. As luzes se acenderam e apagaram por todo o painel de quilômetros de extensão.

Dwar Ev recuou um passo e respirou fundo.

- A honra de formular a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.

- Obrigado - dissse dwar Reyn - Será uma pergunta que nenhuma máquina cibernética foi capaz de responder até hoje.

Virou-se para o computador.

- Deus existe?

A voz tonitruante respondeu sem hesitação, sem se ouvir o estalo de um único relé:

- Sim, agora Deus existe.

O rosto de Dwar Ev ficou tomado de súbito pavor. Saltou para desligar a chave de novo. Um raio fulminante, caído de um céu sem nuvens, o acertou em cheio e deixou a chave ligada para sempre.

"

BROWN, Fredric. "Resposta", in WARRICK, P.S. e GREENBERG, M.W. (org.), Máquinas que pensam - Obras-primas da Ficção Científica. Porto Alegre, L&PM, 1985. pp.364-65.

Consultado em: TENÓRIO, R.M. Computadores de Papel: máquinas abstratas para um ensino concreto. São Paulo: Cortez, 1991.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Software Livre e o verdadeiro acesso ao conhecimento

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[ ATUALIZAÇÃO! ] Uma versão ligeiramente alterada deste texto foi publicada no número 37 (junho.2008) da Revista A Rede, e pode ser lida aqui.

Escrevi o texto abaixo para publicação no jornal do centro acadêmico do curso de Computação da universidade onde trabalho, a UESC. Como o jornal não saiu, e até mesmo uma nova equipe já foi eleita, publico o texto aqui.

Abraços a todas e a todos!
Carlão


Quando alguém começa a falar sobre Software Livre, logo entram em cena as comparações com o software proprietário, em especial comparações técnicas: facilidade/dificuldade de instalação e uso, se a placa “x” ou “y” funciona com o sistema operacional “z”, (in)existência do recurso “j” no sistema “k”... as combinações (e as paixões!) são quase infinitas.

Penso que quando a discussão toma esse rumo, ela perde o que deveria ser o foco principal. A rigor, tecnicamente falando, não há diferenças entre um software proprietário e um Software Livre. Um pode ter a característica “x” que falta no outro, porém o outro com certeza terá a característica “y” que falta no primeiro. Ou então, um tem o suporte de milhares de empresas de hardware que se renderam ao monopólio bem sucedido da empresa “m”, mas o outro tem o verdadeiro milagre de ter milhares de programadores ao redor do mundo que disponibilizam os mais diversos drivers para os mais diversos periféricos, as vezes (na maior parte dos casos!) pelo puro prazer da programação e do compartilhamento.

A favor do Software Livre, surge a questão do preço. Apesar do “free” em “Free Software” significar “free speech”, e não “free beer”, a realidade é que o Software Livre é, na grande maioria dos casos, “free beer”. Porém continuo achando que este não é o rumo principal para esta discussão. Ser grátis, obviamente, contribui para resolver a questão da pirataria de software, questão esta que deveria ser de fundamental importância para os alunos da área de Computação, já estes pretendem construir uma carreira profissional nesta área. Ainda assim, isto não é o mais importante.

O objetivo deste texto é refletir sobre o papel do Software Livre em um ambiente educacional. Nesse sentido, o mais importante a ser falado, comentado e discutido sobre Software Livre são os valores fundamentais desta filosofia: Liberdade de conhecimento. Liberdade de uso. Colaboração. Compartilhamento.

O objetivo principal da Universidade não é a formação de um simples profissional “apertador de botões”, que só sabe trabalhar com um software específico, produzido por uma única empresa (a rigor, isto não se chama “profissional”; isto se chama “cliente”!). O objetivo principal da Universidade é, antes de tudo, a formação do cidadão crítico, consciente, capaz de pensar por si próprio; de forma complementar, busca-se a formação de um profissional completo, que realmente domine os conhecimentos fundamentais da sua profissão.

Quando uma disciplina utiliza um software proprietário como base de suas atividades, é simplesmente isso: um “uso”, uma “ferramenta”. O aluno aprende e exercita os conceitos através desta ferramenta, e é só. Alternativamente, se a disciplina baseia suas atividades em um Software Livre, um novo leque de oportunidades e possibilidades se abre para enriquecer a experiência dos alunos: pode-se ter acesso a versão completa do software, a mesma que está sendo utilizada “pra valer” ao redor do mundo, e não a uma simples versão educacional, “trial”, ou o que é pior, pirata; pode-se ter acesso a vários softwares diferentes, para estudar suas diferenças e comparar suas vantagens/desvantagens; pode-se ter acesso a uma quantidade enorme de material de referência, disponível gratuitamente na Internet; pode-se confiar que este material contém informações completas, já que não há segredos que serão disponibilizados apenas pela empresa proprietária do software, em materiais de referência também proprietários e vendidos a preço de ouro; para os mais curiosos, existe a possibilidade de estudar a própria implementação (código-fonte) do software - isto significa não apenas aprender a configurar e usar um certo recurso, mas sim como implementar na prática aquele recurso. Acima de tudo, existe a possibilidade de colaboração, de participação direta dos alunos no desenvolvimento do software, através da criação de novos materiais de referência, utilizando e reportando defeitos, ou até mesmo consertando defeitos. Em resumo, isto tudo significa verdadeiro acesso ao conhecimento.

Concluo, portanto, que a adoção do Software Livre é fundamental para se conseguir uma verdadeira ação educativa, com acesso irrestrito ao conhecimento. Nesse sentido, é necessária uma parceria entre professores e alunos no sentido de operacionalizar cada vez mais a adoção do Software Livre nas diversas disciplinas dos cursos de Ciências da Computação, e até mesmo de outros cursos.

Precisamos tomar uma decisão importante: queremos virar cidadãos críticos e profissionais completos, verdadeiros “cientistas da computação”, ou nos contentaremos apenas com a função de “clientes”, meros “apertadores de botões” ?

A escolha é nossa!

Para o meu visitante Eduardo Melcher Filho

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Eu tinha o texto abaixo, da Cora Coralina, como entrada do meu antigo site de disponibilização de material de aula. Como é muito mais fácil disponibilizar material via "grupos" (do Google ou Yahoo), estou "fechando" o site definitivamente. E para não perder o texto (e deixar de fazer a homenagem), registro por aqui.

Abraços!
Carlão

"
Ele me disse:
trabalho com um computador e não estou satisfeito.
Gostaria de ser pintor, compositor, poeta.
Escrever romances, fazer Arte.
Meu elemento de trabalho é por demais mecânico,
insensível, impessoal.

Amigo, disse-lhe em mensagem:
olha bem uma lixeira, um monte de lixo.
Não voltes o rosto enojado,
nem leves o lenço ao nariz ao cheiro acre
que te parece insuportável.
No lixo nauseante há uma vida,
muitas vidas
e na vida haverá sempre sentimento,
vibração e poesia.
Tudo que compõe o lixo veio da terra
e, depois de aproveitado,
usado, espremido e sugado,
volta para a terra.
Milhões de gérmens fazem ali uma química
poderosa e fecundante,
transformando em húmus a matéria orgânica,
repulsiva e rejeitada.
Ela vai fazer seu retorno a terra
num processo perene de transformação
e esta a devolverá a ti
no sabor perfumado de um sorvete de morangos.

Procura sempre a alma oculta do teu computador.
Ele é uma criação maravilhosa da inteligência humana.
Um dia tua sensibilidade a encontrará.
"
Coralina, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha.
8a. ed. São Paulo: Global, 2001

quarta-feira, 12 de março de 2008

Primeiro post....

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Olá!

Este blog vai ser um conjunto de notas de assuntos diversos. Como li em outro blog por aí, um "caderno de notas" genérico. Espere principalmente posts ligados a computação - GNU/Linux, Ubuntu, Programação (C, C++, Java, e outras que surgirem...), Antiguidades da computação (micros 8 bits em geral, NEZ8000, TK82, TK83, TK85, TK2000, MSX ...) - acompanhados de sériados, filmes de ficção científica, livros, estudos introdutórios de eletrônica básica e digital, xadrez...

O nome do blog é uma homenagem a um filme dos anos 80, veja uma descrição aqui ... ou via emule aqui, se você ficou muito curioso...

Grande abraço a todas e a todos!

Carlão

"Que o caminho seja brando aos teus pés;
Que o vento sopre leve em teus ombros;
Que o Sol brilhe cálido em tuas faces;
Que as chuvas caiam serenas em teus campos.
E, até que eu de novo te veja,
Que a Deusa te guarde na Palma da Mão!"
(Bênção Irlandesa)