terça-feira, 29 de abril de 2008

Para o meu visitante Eduardo Melcher Filho

.
Eu tinha o texto abaixo, da Cora Coralina, como entrada do meu antigo site de disponibilização de material de aula. Como é muito mais fácil disponibilizar material via "grupos" (do Google ou Yahoo), estou "fechando" o site definitivamente. E para não perder o texto (e deixar de fazer a homenagem), registro por aqui.

Abraços!
Carlão

"
Ele me disse:
trabalho com um computador e não estou satisfeito.
Gostaria de ser pintor, compositor, poeta.
Escrever romances, fazer Arte.
Meu elemento de trabalho é por demais mecânico,
insensível, impessoal.

Amigo, disse-lhe em mensagem:
olha bem uma lixeira, um monte de lixo.
Não voltes o rosto enojado,
nem leves o lenço ao nariz ao cheiro acre
que te parece insuportável.
No lixo nauseante há uma vida,
muitas vidas
e na vida haverá sempre sentimento,
vibração e poesia.
Tudo que compõe o lixo veio da terra
e, depois de aproveitado,
usado, espremido e sugado,
volta para a terra.
Milhões de gérmens fazem ali uma química
poderosa e fecundante,
transformando em húmus a matéria orgânica,
repulsiva e rejeitada.
Ela vai fazer seu retorno a terra
num processo perene de transformação
e esta a devolverá a ti
no sabor perfumado de um sorvete de morangos.

Procura sempre a alma oculta do teu computador.
Ele é uma criação maravilhosa da inteligência humana.
Um dia tua sensibilidade a encontrará.
"
Coralina, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha.
8a. ed. São Paulo: Global, 2001

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